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in V. da Fonseca & R. Martín.f (Eds.)
    Progressos em PsicorTwtricidade,
    pp. 29-40, Lisboa: Edições FMH.




                                                                                              2
              Questões sobre a Identidade da Psicomotricidade
              - As Práticas entre o Instrumental e o Relacional
                                                                                      Rui Martins




                Partindo de um pequeno historial do desenvolvimento da psico motricidade
                e das diferentes concepções que caracterizaram o seu percurso, o autor pro-
                cura com o auxilio de contributos de autores incontornáveis na fundamen-
                tação desta evolução, situar o conceito actual da psicomotricidade, como
                área científica com contextos próprios de observação e intervenção. Em
                termos das práticas psicomotoras procura-se também situar a com-
                plementaridade e não o antagonismo, das duas correntes mais importantes
                referentes ao contexto de base "instrumental", com forte influência
                cognitiviata e neuropsicilógica, e ao contexto dito "relacional", com acen-
                tuada influência psicodinâmica.




           A psicomotricidade tem sido uma área científica marcada pela
    pluralidade, cuja história tem sido caracterizada por práticas diversas de tipo,
    (re)educativo e terapêutico, fundamentadas segundo uma determinada repre-
    sentação da infância e do desenvolvimento infantil, baseada em determina-
    dos e variados modelos teóricos, nomeadamente, da psicanálise, da
    fenomenologia, do cognitivismo, da neurologia e das abordagens sistémicas.
           Fauché (1993), apresenta-nos uma sistematização que ilustra de algu-
    ma maneira esta evolução, começando por apontar como referência teórica
    inicial, expressa no final do século XIX, aquela que numa perspectiva volun-
    tarista valoriza a solicitação dos chamados centros psicomotores, sendo a
    vontade situada num local preciso do cérebro, numa função intermédia entre
    a ideia e o movimento. Neste caso, os exercícios propostos por autores como




b
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Charcot, Tissié, Janet ou Pétat, visariam estimular esses centros psicomotores
restabelecendo a função volitiva, sobrepondo-se esta aos erros do pensamen-
to.
       Na década de 30/40, começa a ser valorizado um modelo integracionista
que defende que o funcionamento psíquico depende de uma organização pro-
gressiva, em que o mais arcaico é progressivamente integrado nas estruturas
superiores, e em que as reacções emocionais são inibidas pela actividade
automática, a qual é por sua vez controlada pelo acto voluntário e reflectido.
Este modelo, apoia-se fortemente na teoria walloniana relativa à explicação
da génese do psiquismo na criança, e assume a integração tónico-emocional
como objecto da psicomotricidade, na dependência dos automatismos mo-
tores e dos actos inteligentes, mediados pela actividade reflexiva.
       Nos anos 50, tendo-se constatado que quadros como a dislexia, a
disortografia, os tiques, a gaguês, a instabilidade e a inibição estavam corre-
lacionados com um funcionamento neuro-motor perturbado, surge uma prá-
tica psicomotora centrada no desenvolvimento do esquema corporal e na
estruturação espacial e ritmíca. Esta perspectiva, partia do princípio de que
a criança obtendo o domínio e conhecimento de si pela acção controlada e
organizada no espaço e no tempo, poderia restaurar os meios fundamentais
para as aprendizagens escolares. Esta corrente que é influenciada pela teoria
piagetiana, e onde se integra a perspectiva da psicocinética de Le Boulch, é
caracterizada pela concepção de que o pensamento nasce do movimento, e
encara a psicomotricidade como contexto promotor do desenvolvimento da
inteligência e do pensamento. Consequentemente, nesse período as práticas
psicomotoras envolviam um conjunto de procedimentos sistematizados e com
regras próprias, assentes na racionalidade das situações.
       No entanto, no início dos anos 70 começou a acentuar-se a importân-
cia atribuída à acção terapêutica da psicomotricidade, valorizando-se a com-
ponente relacional. e os mecanismos inconscientes inerentes à
indissociabilidade da vivência corporal e da estruturação do psiquismo. O
inconsciente e a sua expressão tónica, se ligados a uma história pessoal
centrada na repressão, impedem a criatividade e a expressão da individuali-
dade e da identidade plena, e portanto no contexto de intervenção da
psicomotricidade haverá que deixar a criança explorar livremente as possibi-
lidades de afirmação dos seus desejos, num clima permissivo e num espaço
referenciado por uma atmosfera afectiva e um diálogo de base tónico-emoci-
onal. O problema psicomotor, a perturbação comportamental ou o insucesso
escolar, têm nesta perspectiva um valor sintomático, não redutível a uma
disfunção neuro-motora ou a um déficite instrumental, mas entendidos no
contexto de uma história pessoal impregnada de repressão e de interdições.
Será então pelo jogo livre, pela expressão sobre todas as formas possíveis, e
QUESTÓES SOBRE A IDENTIDADE DA PSICOMOTRICIDADE             31



    pelas atitudes permissivas e de escuta do terapeuta, que será possível ultra-
    passar esses bloqueios, reconstruindo a representação modelar da imagem do
    adulto, como veículo securizador para a afirmação do desejo criativo,
    assimilador e transformador do meio.
           Em síntese, e de acordo com Rosmarie Schnydrig (1994), poderemos
    dizer que nos primórdios do desenvolvimento da psicomotricidade, como área
    científica com referenciais próprios de formação, investigação e actividade
    clínica, falava-se essencialmente de reeducação psicomotora e de problemas
    psicomotores. O objectivo da prática era então essencialmente o de corrigir
    os problemas motores e espacio-temporais através de uma aprendizagem pro-
    gressiva, com enfoque instrumental e cognitivo.
           Progressivamente, com a constatação de que as perturbações envolvi-
    am aspectos que ultrapassavam o simples 'déficite localizado de uma função,
    começou-se a falar de terapia psicomotora e de sintomas psicomotores, e o
    objectivo da prática passou a centrar-se na globalidade da pessoa, tendo em
    conta quer os aspectos funcionais quer relacionais. A intervenção psicomotora
    assume então como objectivo fundamental, a realização da criança enquanto
    pesssQa. Não se trata já de gerir uma descoordenação, mas sim de possibili-
    tar a expressão da sua personalidade.
           Isto significa que os psicomotricistas consideram que as potencialidades
    motoras, mentais e emocionais de um indivíduo estão em constante interacção
    e que o corpo é o local de manifestação de todo o ser, e que para perceber o
    que exprime o corpo, é necessário situá-lo no seu envolvimento ecológico,
    com o qual está em interacção permanente. A maior parte das actividades
    lúdicas e simbólicas das crianças, são uma boa representação desta integração.
           Liévre & Staes (1992) sugerem-nos a este propósito que imaginemos
    uma situação de interacção infantil num contexto lúdico. Num qualquer es-
    paço de recreio, um grupo de crianças brinca por ex o , aos pais e aos filhos.
    Essas crianças utilizam o seu corpo para exprimir as personagens que repre-
    sentam, as suas emoções, sentimentos e acções. Escolheram um espaço para
    jogar, que utilizam de acordo com a sua personalidade, e mobilaram esse
    espaço de forma imaginária.
           O tempo será real quanto à duração e ao ritmo do jogo, mas também
    imaginário quanto à representação do tempo que passa (o amanhã, a semana
    seguinte ... ).
           Por outro lado, ao representarem estas cenas, as crianças vão fazer apelo
    ao seu vivido anterior, o que lhes possibilita a compreensão das atitudes dos
    outros, no plano verbal e não verbal, num processo de "escuta" que permite
    que a interacção seja lógica e coerente.
           A personalidade das crianças revela-se segundo os papéis que assumem,
    e a adaptabilidade é estimulada pela possibilidade de antecipar a relativa




b
32                                  RUI MARTINS




imprevisibilidade dos comportamentos e acções dos outros, pela afirmação
do imaginário e pelo conhecimento e controlo de si próprio.
        Esta situação imaginária, constitui uma boa representação da estreita
relação que existe na actividade humana, entre a motricidade, o psiquismo e
a afectividade.
        Na realidade, as praxis psicomotoras situam a actividade humana como
um investimento global da personalidade da pessoa em acção, em que as
modificações tónicas, as posturas e os movimentos, são significantes de toda
a história pessoal do sujeito, das suas representações, das suas vivências tó-
 nico-emocionais e do seu imaginário. A prática psicomotora é unificadora,
 no sentido em que veicula os laços entre o corpo e a actividade mental, o real
e o imaginário, o espaço e o tempo, melhorando o potencial adaptativo do
 sujeito, ou seja, as possibilidades de realização nas trocas com o envolvimento.
        Dentro desta concepção genérica, as práticas psicomotoras podem de-
 senvolver-se em contextos de acção diferenciados, em função de critérios que
têm como referência a própria história does) sujeito(s), a origem e caracterís-
 ticas das suas dificuldades, as características do meio institucional onde é feito
o atendimento, e até as características da personalidade e da formação pro-
fissional do orientador da intervenção.
        Em função destes critérios, o enfoque da actividade poderá incidir na
valorização da componente relacional e psico-afectiva, envolvendo fundamen-
talmente a gestão da problemática da identidade e da fusionalidade, possibi-
litando a expressividade pulsional do sujeito, e o reinvestimento na pessoa
do adulto como agente securizador e garante do desejo de interrelação com o
mundo das coisas e dos outros.
        Por outro lado, a prática pode centrar-se particularmente na componente
instrumental da actividade, envolvendo uma relação mais precisa com os
objectos e as características espaciais e temporais do envolvimento. Neste
caso, a partir da experimentação sensório-motora (mais ou menos expontânea,
consoante as possibilidades de iniciativa e criatividade do sujeito), pretende-
se estimular o desenvolvimento da actividade perceptiva e da actividade sim-
bólica e conceptual, valorizando a intencionalidade e a consciencialização da
acção, e explorando todas as formas possíveis de expressão (motora, gráfica,
verbal, sonora, plástica, etc).
        Independentemente destas opções. o "espaço psicomotor" será sempre
um espaço de prazer sensório-motor, local de jogo simbólico e de represen-
tações, com uma progressiva tomada de distância por relação ao corpo, no
investimento sobre o envolvimento.
        Numa perspectiva cognitivista, aceita-se a ideia Piagetiana de que as
alterações evolutivas se baseiam quer em processos biológicos de maturação,
quer da acção e da experimentação ac[Í va do sujeito, através da actividade
QUESTÕES SOBRE A IDENrfDADE DA PS1COMOTR1CfDADE             33



sensório-motora, utilizando as retroacções próprias da experiência para cons-
truir hipóteses mais adequadas sobre a realidade.
       Wallon na sua obra, apresenta também algumas ideias relevantes para
explicar a evolução da inteligência e que são importantes para a fundamenta-
ção das práticas psicomotoras. Assim, parte-se do princípio de que a maturação
do sistema nervoso representa a base do desenvolvimento e da integração das
experiências, através de uma hierarquização das funções nervosas, desde as
mais primitivas (reflexas e automáticas) até às mais recentes de tipo voluntá-
rio, as quais apresentam maior complexidade e vão dominar as anteriores.
       Por outro lado, a evolução da inteligência faz-se por uma diferencia-
ção progressiva, que parte do pensamento dito sincrético ( no qual existe al-
guma indistinção entre a imaginação e a realidade exterior) para um
pensamento objectivo, graças à diferenciação entre o Eu e o outro, entre su-
jeito e objecto.
       A evolução processa-se de uma inteligência prática para uma inteli-
gência discursiva, e é pela interiorização do acto que se organiza o pensa-
mento interior. A criança orienta a sua inteligência para a acção imediata, e
é pela representação do acto que pode aceder ao pensamento. Nesta evolução
de uma inteligência prática para uma inteligência conceptual, Wallon valori-
za o papel dos seguintes processos:

      - A relação da criança com o seu envolvimento social
      - A imitação do outro
      - A identificação do outro no espelho, o que permite a auto estruturação
        do esquema corporal ao descobrir o corpo do outro
      - A base da comunicação centrada na motricidade, valorizando o diálogo
        tónico, que exprime as emoções e prepara o aparecimento da linguagem.
      - A função tónico-postural ligada ao funcionamento das emoções e à
        exteriorização da afectividade.

       Este autor, diz-nos ainda que as descobertas intelectuais da criança
passsam por jogos de oposição qualitativos, antes de serem quantitativos (gran-
de/pequeno, muito/pouco, etc. levando a criança à organização do pensamento
categorial, ou seja à possibilidade de distribuir por categorias os diferentes
elementos da sua experiência, descobrindo progressivamente a causalidade e
as leis que a regem.
       Por outro lado, Wallon afirma que o tónus é a função plástica que pre-
para e pré-figura o movimento, e torna-se intermediário entre o acto a execu-
tar e a situação que o comanda. A função tónica constituindo a base da vida
e da sua evolução subjectiva, está ligada à vida expressiva e intuitiva, emo-
cional e afectiva, intencional e imaginativa.
34                                Rur   MI1RTfNS




       Ajuriaguerra, foi também um autor fundamental para a fundamentação
da psico motricidade, assinalando-se a importância atribuida ao diálogo tóni-
co, e à função estruturante da função postural ligada à emoção, actuando como
mediadores nos processos de identificação e de distanciação.
       Partindo destes pressupostos, e segundo as necesssidªdes e os contex-
tos institucionais, o psicomotricista modula a sua atitude para agir de manei-
ra educativa, nos contextos ditos "normais" em que se pretende essencialmente
estimular o desenvolvimento psicomotor, ou de uma maneira reeducativa ou
terapêutica, quando a dinâmica do desenvolvimento e da aprendizagem es-
tão comprometidos ou ainda quando é necessário ultrapassar problemas
relacionais que comprometem a adaptabilidade da pessoa.
       Nesta perspectiva, podemos então de acordo com a concepção da Or-
ganização Internacional de Psicomotricidade e Relaxação, definir a psico-
motricidade como uma reeducação ou terapia de mediação corporal e
expressiva, na qual o reeducador ou terapeuta estuda e compensa as condutas
motoras inadequadas ou inadaptadas, em diversas situações geralmente liga-
das a problemas de desenvolvimento e de maturação psicomotora, de com-
portamento, de aprendizagem e de âmbito psico-afectivo, e no mesmo sentido,
podemos situar de acordo com Aucouturier, Darrault & Empinet (1986) como
principais finalidades da psicomotricidade:

        A comunicação, gerindo a ambivalência decorrente do desejo de iden-
        tificação e de dependência e a dinâmica de trocas (complementaridade,
        oposição, etc ... );
      - A criação, como capacidade de acção pessoal transformadora;
      - O acesso a um pensamento operatório, passando de um pensamen-
        to essencialmente sincrético para o estabelecimento de relações lógi-
        cas entre os elementos da acção e do pensamento, com adequada
        capacidade de identificar, descriminar, analisar e sintetizar a infor-
        mação disponível;
      - A harmonização e maximização do potencial motor, cognitivo e
        afectivo-relacional, ou seja, o desenvolvimento global da personali-
        dade, a adaptabilidade social e a adequabilidade do processamento
        de informação do indivíduo.

       Na realidade, a psícomotricidade é uma prática de mediação corporal
que permite à criança reencontrar o prazer sensório-motor através do movi-
mento e da regulação tónica, possibilitando depois a apropriação dos proces-
sos simbólicos, com forte acentuação da componente lúdica.
       A especificidade da psicomotricidade, consiste em dar às crianças a pos-
sibilidade de reencontrar a harmonia do seu "ser" psicomotor - e o prazer de
QUESTÕES SOBRE A IDENTIDADE DA PSICOMOTRlCIDADE             35



    o fazer funcionar colocando em jogo a sua faculdade de ser e de agir pelo
    corpo em relação, através do movimento.
           Segundo Rosmarie Schnydrig (1994), a intervenção em Psicomo-
    tricidade pode situar-se essencialmente nos seguintes planos:

          1. Regulação e harmonização tónica 'centrada sobre a maneira de es-
             tar no seu corpo (atitude-postura, esquema corporal, descontração
             neuro-muscular);
          2. Movimentos funcionais e expressivos centrados sobre a maneira de
             agir com o seu corpo (coordenações, dissociações, praxias);
          3. Vivência da relação tónico-emocional com o terapeuta, baseada na
             dimensão fantasmática do corpo e do agir.

           Os instrumentos de trabalho são o corpo em movimento (o nosso e o
    da(s) criança(s), como meio de relação consigo próprio, com o outro e com o
    envolvimento (o espaço, o tempo e os objectos). O indivíduo manifesta-se
    pelas suas posturas, atitudes, gestos e mímicas e a consciência do corpo é a
    condição e instrumento da consciência de si.
           A relação terapêutica funciona a partir do momento em que o terapeuta
    se torna um parceiro aceite e desejado pela criança, e é a partir dessa relação
    que se desenvolve a capacidade de jogar e de criar.
           Neste processo, é fundamental a harmonização da relação consigo pró-
    prio, o que significa reencontrar a coordenação postural baseada nas suas
    componentes espaciais, rítmicas e tónicas. Implica uma tomada de consciên-
    cia e a libertação progressiva dos obstáculos à acção dessa coordenação, em
    qualquer atitude ou movimento e exige uma escuta atenta e de aceitação de
    si mesmo e do outro naquilo que ele representa. Estamos a referirmos-nos à
    capacidade de empatizar relacionando o "olhar" interior com o "olhar exteri-
    or".
           Essa unidade psicossomática, esse Eu Corporal e Psíquico só se perce-
    be e constrói em função de um parceiro privilegiado, que num contexto
    securizante permite a emergência da autonomia.
           No que concerne aos aspectos fundamentais dos possíveis modelos de
    intervenção e de relação, podemos assinalar alguns elementos que nos pare-
    cem de primordial importância.
           A centração do trabalho na perspectiva terapêutica, e na valorização
    da componente psico-afectiva e relacional, está fortemente influenciada pela
    corrente psicodinâmica, e vai segundo Chappaz-Pestelli (1994), permitir como
    que um reviver da relação mãe-bébé: o contacto pela pele, o calor que unifi-
    ca o bébé e lhe dá prazer, o frio que o reenvia para o desprazer, a postura
    envolvente que acalma ou angustia, as mímicas, os sorrisos, a voz. A relação



»
36                                RUI MARTINS




 tónica-emocional decorrente da simbiose fisiológica e afectiva da relação
precoce, é uma experiência do corpo, e o bébé está activamente envolvido
 nessa experiência pelas sincronias mimicas, posturais, cinéticas e vocais. Pelo
jogo de tensão/descontração, prazer/desprazer, introduz-se um ritmo e ruptu-
 ras que são suportáveis se a mãe é "suficientemente boa". É o desejo provo-
 cado pela falta da mãe que permite à criança, por um lado construir-se como
 Eu corporal e psíquico distinto do outro, graças ao aparecimento da repre-
 sentação como percursora da função simbólica (o poder evocar a mãe na sua
 ausência), e por outro lado, o construir o real, com os seus objectos, o espaço
 e o tempo.
       Os laços afectivos entre a mãe e a criança vão possibilitar-lhe o inves-
 timento no mundo exterior e nos seus objectos, os quais funcionam como
 mediadores nas trocas com o outro, permitindo uma gestão adequada da dis-
 tância interpessoal.
       De acordo com Donnet (1993), o local de intervenção é um local de
 prazer e de desejo, para ser explorado segundo a personalidade de cada um,
 com as suas inibições, a sua agressividade, instabilidade, ou descoordenação,
 e os objectos são significantes ou representantes do mundo real, tangível, que
 nos permitem fazer a ponte entre a realidade subjectiva, interior, e a realid~­
de objectiva partilhada por todos.
       No plano da comunicação, e segundo Rey & Schwab-Reckmann (1994),
a psicomotricidade utiliza todos os canais possíveis incluindo o da comuni-
cação não-verbal, particularmente quando se trabalha com pessoas que não
têm linguagem verbal, ou que não a utilizam de uma maneira socializada. De
facto, a comunicação não-verbal constitui uma verdade para além das pala-
vras, em que o corpo como estrutura espacial original e única, está sempre
em situação pela expressão corporal e pela dinâmica do movimento. A co-
municação não-verbal funciona numa articulação permanente entre o "sentir
e o mover-se", e esta expressividade assume um valor simbólico de grande
importância no desenvolvimento do processo terapêutico. Neste diálogo por
mediatização corporal, ps canais de comunicação mais importantes envolvem:
as orientações corporáis, as posturas e a distância interpessoal , as mímicas,
a gestualidade, o diálogo tónico, a respiração e a voz, a sincronia rítmica, o
contacto corporal, o olhar e o odor. Analisemos por exemplo, e de acordo
com Vecchiato (1989), o valor simbólico associado às posturas e aos materi-
ais utilizados. A posição de gatas favorece as atitudes de agressão ou de po-
der. Gatinhar com a cabeça erguida é sentido frequentemente como forma de
ameaça ou de agressão. A mesma postura, mas com a cabeça baixa implica
já uma passividade e um consentimento à aproximação. As posições de sen-
tado de joelhos ou com as pernas abertas, favorecem o encontro, o recolhi-
mento e o sentimento de segurança, e a postura de deitado assume significados
QUESTGES SOBRE A IDENTlDADE DA PSICOMOTRIClDADE               37



diferentes consoante se coloca em posi~ao ventral ou dorsal, com olhos aber­
tos ou fechados.
       Em reIa~ao aos objectos ou materiais utilizados, estes devem ser intro­
duzidos nao apenas peia sua funcionalidade e utiliza~ao pnixica, mas tam­
bern pelas produ~oes de tipo simbolico que vao encorajar. Os baloes permitem
uma reIa~ao com 0 proprio corpo, com contactos agradaveis e afectivos, per­
mitindo jogos e trocas com 0 outro, envolvendo quer a agressao quer a coo­
pera~ao. As cordas facilitam a manifesta~ao de desejos agressivos, de dominio
e de posse. Pode-se bater com elas, atira-Ias, segura-las ou amarrar as coisas.
Podem mediatizar a disUlncia, facilitar 0 jogo, a criatividade e a constru~ao.
Os arcos podem ser utilizados para rodar, saltar, bater, apanhar 0 outro, e re­
presentam urn espac;o simbolico fechado, no qual se pode entrar ou sair, e
facilitar a conceptualizac;ao do dentro e fora. Os tecidos coloridos, podem
servir por exo, para envolver, puxar, esconder, ou transportar. Abrem a possi­
bilidade de contruc;ao de espac;os regressivos (a casa, a toca ou 0 ninho), onde
se pode gerir a dinamica de entradas e safdas, e a proximidade ou
distanciamento do outro. 0 esconder-se e cobrir-se ou cobrir 0 outro, como
forma de experimentar a permanencia de si e das coisas fora de si.
       Do mesmo modo, muitos outros objectos podem assumir-se como medi­
adores da actividade, como e 0 caso das bolas, folhas de papel, rolos, espumas,
bastOes, superffcies de equilibrayiio, bancos e cadeiras, almofadas, tapetes, ins­
trumentos de produc;ao sonora, etc ..., os quais podem ser utilizados valorizando
essencialmente 0 seu contetido afectivo ou racionaJ. 0 objecto pode ter urn valor
substitutivo relativamente ao corpo do outro, pode constitui-se como proionga­
mento ou projec~ao do corpo no espa~o, servir de espa~o simbolico para a
exterioriza~ao de desejos agressivos, ou funcionar como mediador nas trocas
(agressivas, possessivas, de adapta~ao recfproca ou de procura fusional). No en­
tanto, em psicomotricidade os processos de comunica~ao, de vern desenvolver-se
numa perspectiva integrada entre 0 verbal e 0 nao verbal.
       Em suma, os nossos instrumentos de trabalho sao constituidos pel os
nossos proprios corpos, 0 espac;o de relac;ao, 0 espac;o/sala, 0 tempo e ritmos
da sessao, e os varios objectos disponiveis.
       Estes meios serao mais eficazes, se existir uma atmosfera IUdica, na
qual 0 proprio terapeuta esteja envolvido, atendendo sempre ao nfvel relacional
dos sujeitos envolvidos. De facto, 0 movimento torna-se mais significativo
para as crian~as se desenvolvido num contexto de jogo, 0 qual, segundo
Schnydrig (1994), e de acordo com as concepc;oes Piaget, WaHon e Winnicott,
pode assumir caracterfsticas diversas:

      - Jogos de exercicio (funcionais ou sensorio-motores) harmonizando
        os gestos e aumentando a sua efid.cia.
38                                Rur MARTfNS



      - Jogos simbólicos ou de imaginação (de ficção), os quais favorecem
        por um lado, a passagem do nível sensório-motor ao nível da repre-
        sentação, e por outro lado, permitem ao EU compensar ou completar
        a realidade graças à ficção, eliminando os conflitos ou os medos e
        antecipando os acontecimentos.
      - Jogos de construção (de fabricação), que têm a sua fdnte nos jogos
        simbólicos e evoluem para uma adaptação mais precisa à realidade.
      - Jogos de regras Gogos sociais) que se caracterizam por certas obri-
        gações comuns permitindo o desenvolvimento da cooperação e da
        descentração.

       A intervenção deve basear-se em situações que possibilitem ultrapasssar
os bloqueios existentes e permitam a libertação e flexibilização gestual, atra-
vés de uma atmosfera permissiva, segura e lúdica.
       O terapeuta funciona como um mediatizador da relação da criança com o
envolvimento, e as suas opções técnicas terão que ser indissociáveis das
condicionantes afectivas que geraram as perturbações psicomotoras da criança.
       A intervenção centrada na componente instrumental, e com maior fun-
damentação de tipo cognitivo e neuro-psicológico, privilegia segundo Fonseca
(1981) a intervenção centrada nas situações-problema. Estas são apresentadas de
forma a serem vividas como situações de êxito, estabelecendo uma relação entre
a criança e a acção, susceptível de romper com os seus bloqueios e resistências
e melhorando também a sua auto-estima e auto-confiança. A situação-problema
apelando à descoberta e ao pensamento divergente deve provocar um esforço de
atenção, favorecendo a diferenciação das fontes de informação disponíveis e a
adaptabilidade à variabilidade do envolvimento.
       A colocação das situações-problema deverá envolver a linguagem oral,
quer na antecipação da actividade, quer na avaliação que deverá ser efectua-
da após a sua realização, no sentido de comparar o resultado desejado com o
obtido. Torna-se assim possível para a criança, situar progressivamente as suas
próprias possibilidades em relação às exigências do meio. A linguagem ver-
bal permite passar da experiência imediata e sincrética, à tomada de cons-
ciência, que implica um distanciamento da acção através da sua representação,
e uma elaboração da experiência vi vida e da emoção sentida.
       O recurso à demonstração deverá constituir uma excepção, evitando a
utilização de modelos rigorosos e de processos sistemáticos de imitação.
Torna-se necessário situar entre o estímulo e a resposta uma fase de media-
ção cognitiva, que favoreça os processos de análise, integração e elaboração
da informação. De facto, há que promover as capacidades de reflexão, inven-
ção, expressão e transposição, possibilitando à actividade funcionar como um
escape criativo, libertador do imaginário da criança.
QUEST6ES SOBRE A IDENTIDADE DA PSICOMOTRICIDADE            39



       Uma vez desenvolvida a experimentação sensório-motora (envolvendo
vivências que estimulem as sensações ligadas ao movimento, a integração
tónico-postural, os processos de lateralização e percepção do corpo, o domí-
nio das condições espacio-temporais do envolvimento, e a coordenação práxica
de movimentos, é tempo de aceder à representação, de deixar um traço que
reforçe o sentimento de existência e estimule a capacidade criadora e
transformadora, através da transposição perceptiva e simbólica das atitudes
ou acções. De acordo com Lapierre & Aucouturier (1978) este é o tempo de
aceder à representação e à abstração, pelo recurso à palavra, à cor, ao dese-
nho, ao grafismo e à expressão sonora, estimulando a necessidade de organi-
zação das representações, em noções fundamentais que vão conduzir ao
pensamento categorial e conceptual. Deste modo, a sessão de psicomotricidade
conduz progressivamente a criança do prazer de agir, ao prazer de antecipar,
projectando-se no futuro.
       O sucesso da intervenção psicomotora depende dos processos de iden-
tificação entre as pessoas implicadas. O olhar, a mímica facial, a plasticidade
dos movimentos do corpo, são mais fácilmente integrados do que os procedi-
mentos verbais de aceitação e de compreensão.
       O terapeuta deve ser um suporte da comunicação, estimulando a ima-
ginação criadora. Nao lhe compete avaliar a acção com critérios estéticos ou
de rendimento, mas sim aceitar todas as manifestações da criança como vá-
lidas. Com um bom clima emocional, o inêxito de uma situação é relativizado
e bem compreendido. O interesse situa-se ao nível da experiência e da vivência
e não do êxito ou inêxito. Não se deve valorizar a criança só pelos êxitos,
mas também pela sua capacidade relacional e afectiva.
       De acordo com Bucher (1985), as situações devem ir evoluindo em com-
plexidade, variando progressivamente as condições espacio-temporais e as
circunstâncias de execução, de forma a favorecer a adaptabilidade e a auto-
nomia do sujeito.
       As actividades proporcionadas pelo terapeuta, não devem desencadear
o reviver de situações ou emoções que tenham sido responsáveis pelas difi-
culdades pre~entes no plano da acção ou da relação, e o terapeuta deve de-
marcar-se da representação que a criança faz dos adultos em relação aos quais
mantém relações conflituosas ou de impasse.
       O terapeuta está activamente envolvido no processo terapêutico, toman-
do consciência e interrogando-se sobre as suas atitudes, procurando alargar o
seu campo de compreensão, e alterando as suas atitudes em relação a si pró-
prio e aos outros.
       A organização dos contextos de acção em psicomotricidade é também
como temos vindo a constatar, condicionada pelo tipo e grau da indicação,
ou seja, pela problemática existente. Este critério é importante para decidir
•


40                                           RUI MARTINS




se o apoio é individual, ou em pequeno ou grande grupo, se a atitude é mais
ou menos directiva, se o acentuação é mais sobre a componente motora,
cognitiva ou relacional, se se valoriza o jogo funcional ou simbólico, a
receptividade ou a expressão. Mas globalmente pode-se afirmar que a prática
psicomotora é dirigida às crianças ou adultos que se sentem mal no seu cor-
po, e que têm dificuldade em comunicar e em agir sobre o mundo exterior, e
que encontram no agir, na experimentação e no investimento corporal, um
meio para afirmar a sua presença no mundo.


                                          Bibliografia:
Aucouturier, B. ; Darrault, L & Empinet, 1.L. (1986). A prática psicomotora, reeducação e terapia,
        Porto Alegre. Artes Médicas
Bucher, H. (1985). Troubies Psychomoteur.r CMZ l' enfant, Pratique de ia rééducation psychomotrice,
        Paris, Masson
Calza, A. & Contant, M. (1994). Psychomotricité, Paris, Masson
Chappaz-Pestelli, M. (1994). Des Thérapies Psychomotrices à la Pratique Psychomotrice, in La
        Psychomotricité, reflects des pratiques actuelles, Association Suisse des Thérapeutes de la
        Psychomotricité, Geneve, Georg Éditeurs
De Lievre. B. & Stnes, L. (1992). LtJ Psychomotridté au service de i'enfant, Paris. Belin
Donnet, S. (1993). L' éducation psychomorrice de i' enfant, Paris, PrivaI
Fauché, S. (1993). Du corps au psychisme, histoire et épistémoiogie de ia psychomotricité, Paris, Presses
        Universitaires de France
Fonseca, V. (1985). Contributo para /I estudo da génese dn Psico motricidade, Editorial NotCcias, Lis-
        boa, 3' edição
Lapierre & Aucouturier (1978). Les contrastes et ia découverte des notion.rfondnmentaies, Paris, Doin
Schnydrig, R. (1994). Éducation, Réeducation, Thérapie Psychomotrice, in La Psychomotridté, reflects
        des pratiques actuelles, Associatíon Suisse des Thérapeutes de la Psychomotricité, Geneve, Georg
        Éditeurs
Richard, I. & Rubio, L. (1995). La thérapie psychomofrice, Paris, Masson
Rey, M.C. & Schwab-Reckmann (1994). Psychomotricité et Communication, in La Psychomotricité.
        reflects des pratiques actuelles, Association Suisse des Thérapeutes de la Psychomotricité,
        Geneve, Georg Éditeurs
Vecchiato, M. (1989). Psicomotricidade Relacionai e Terapia, Porto Alegre, Artes Médicas.

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Identidade da Psicomotricidade

  • 1. in V. da Fonseca & R. Martín.f (Eds.) Progressos em PsicorTwtricidade, pp. 29-40, Lisboa: Edições FMH. 2 Questões sobre a Identidade da Psicomotricidade - As Práticas entre o Instrumental e o Relacional Rui Martins Partindo de um pequeno historial do desenvolvimento da psico motricidade e das diferentes concepções que caracterizaram o seu percurso, o autor pro- cura com o auxilio de contributos de autores incontornáveis na fundamen- tação desta evolução, situar o conceito actual da psicomotricidade, como área científica com contextos próprios de observação e intervenção. Em termos das práticas psicomotoras procura-se também situar a com- plementaridade e não o antagonismo, das duas correntes mais importantes referentes ao contexto de base "instrumental", com forte influência cognitiviata e neuropsicilógica, e ao contexto dito "relacional", com acen- tuada influência psicodinâmica. A psicomotricidade tem sido uma área científica marcada pela pluralidade, cuja história tem sido caracterizada por práticas diversas de tipo, (re)educativo e terapêutico, fundamentadas segundo uma determinada repre- sentação da infância e do desenvolvimento infantil, baseada em determina- dos e variados modelos teóricos, nomeadamente, da psicanálise, da fenomenologia, do cognitivismo, da neurologia e das abordagens sistémicas. Fauché (1993), apresenta-nos uma sistematização que ilustra de algu- ma maneira esta evolução, começando por apontar como referência teórica inicial, expressa no final do século XIX, aquela que numa perspectiva volun- tarista valoriza a solicitação dos chamados centros psicomotores, sendo a vontade situada num local preciso do cérebro, numa função intermédia entre a ideia e o movimento. Neste caso, os exercícios propostos por autores como b
  • 2. 30 RUI MARTINS Charcot, Tissié, Janet ou Pétat, visariam estimular esses centros psicomotores restabelecendo a função volitiva, sobrepondo-se esta aos erros do pensamen- to. Na década de 30/40, começa a ser valorizado um modelo integracionista que defende que o funcionamento psíquico depende de uma organização pro- gressiva, em que o mais arcaico é progressivamente integrado nas estruturas superiores, e em que as reacções emocionais são inibidas pela actividade automática, a qual é por sua vez controlada pelo acto voluntário e reflectido. Este modelo, apoia-se fortemente na teoria walloniana relativa à explicação da génese do psiquismo na criança, e assume a integração tónico-emocional como objecto da psicomotricidade, na dependência dos automatismos mo- tores e dos actos inteligentes, mediados pela actividade reflexiva. Nos anos 50, tendo-se constatado que quadros como a dislexia, a disortografia, os tiques, a gaguês, a instabilidade e a inibição estavam corre- lacionados com um funcionamento neuro-motor perturbado, surge uma prá- tica psicomotora centrada no desenvolvimento do esquema corporal e na estruturação espacial e ritmíca. Esta perspectiva, partia do princípio de que a criança obtendo o domínio e conhecimento de si pela acção controlada e organizada no espaço e no tempo, poderia restaurar os meios fundamentais para as aprendizagens escolares. Esta corrente que é influenciada pela teoria piagetiana, e onde se integra a perspectiva da psicocinética de Le Boulch, é caracterizada pela concepção de que o pensamento nasce do movimento, e encara a psicomotricidade como contexto promotor do desenvolvimento da inteligência e do pensamento. Consequentemente, nesse período as práticas psicomotoras envolviam um conjunto de procedimentos sistematizados e com regras próprias, assentes na racionalidade das situações. No entanto, no início dos anos 70 começou a acentuar-se a importân- cia atribuída à acção terapêutica da psicomotricidade, valorizando-se a com- ponente relacional. e os mecanismos inconscientes inerentes à indissociabilidade da vivência corporal e da estruturação do psiquismo. O inconsciente e a sua expressão tónica, se ligados a uma história pessoal centrada na repressão, impedem a criatividade e a expressão da individuali- dade e da identidade plena, e portanto no contexto de intervenção da psicomotricidade haverá que deixar a criança explorar livremente as possibi- lidades de afirmação dos seus desejos, num clima permissivo e num espaço referenciado por uma atmosfera afectiva e um diálogo de base tónico-emoci- onal. O problema psicomotor, a perturbação comportamental ou o insucesso escolar, têm nesta perspectiva um valor sintomático, não redutível a uma disfunção neuro-motora ou a um déficite instrumental, mas entendidos no contexto de uma história pessoal impregnada de repressão e de interdições. Será então pelo jogo livre, pela expressão sobre todas as formas possíveis, e
  • 3. QUESTÓES SOBRE A IDENTIDADE DA PSICOMOTRICIDADE 31 pelas atitudes permissivas e de escuta do terapeuta, que será possível ultra- passar esses bloqueios, reconstruindo a representação modelar da imagem do adulto, como veículo securizador para a afirmação do desejo criativo, assimilador e transformador do meio. Em síntese, e de acordo com Rosmarie Schnydrig (1994), poderemos dizer que nos primórdios do desenvolvimento da psicomotricidade, como área científica com referenciais próprios de formação, investigação e actividade clínica, falava-se essencialmente de reeducação psicomotora e de problemas psicomotores. O objectivo da prática era então essencialmente o de corrigir os problemas motores e espacio-temporais através de uma aprendizagem pro- gressiva, com enfoque instrumental e cognitivo. Progressivamente, com a constatação de que as perturbações envolvi- am aspectos que ultrapassavam o simples 'déficite localizado de uma função, começou-se a falar de terapia psicomotora e de sintomas psicomotores, e o objectivo da prática passou a centrar-se na globalidade da pessoa, tendo em conta quer os aspectos funcionais quer relacionais. A intervenção psicomotora assume então como objectivo fundamental, a realização da criança enquanto pesssQa. Não se trata já de gerir uma descoordenação, mas sim de possibili- tar a expressão da sua personalidade. Isto significa que os psicomotricistas consideram que as potencialidades motoras, mentais e emocionais de um indivíduo estão em constante interacção e que o corpo é o local de manifestação de todo o ser, e que para perceber o que exprime o corpo, é necessário situá-lo no seu envolvimento ecológico, com o qual está em interacção permanente. A maior parte das actividades lúdicas e simbólicas das crianças, são uma boa representação desta integração. Liévre & Staes (1992) sugerem-nos a este propósito que imaginemos uma situação de interacção infantil num contexto lúdico. Num qualquer es- paço de recreio, um grupo de crianças brinca por ex o , aos pais e aos filhos. Essas crianças utilizam o seu corpo para exprimir as personagens que repre- sentam, as suas emoções, sentimentos e acções. Escolheram um espaço para jogar, que utilizam de acordo com a sua personalidade, e mobilaram esse espaço de forma imaginária. O tempo será real quanto à duração e ao ritmo do jogo, mas também imaginário quanto à representação do tempo que passa (o amanhã, a semana seguinte ... ). Por outro lado, ao representarem estas cenas, as crianças vão fazer apelo ao seu vivido anterior, o que lhes possibilita a compreensão das atitudes dos outros, no plano verbal e não verbal, num processo de "escuta" que permite que a interacção seja lógica e coerente. A personalidade das crianças revela-se segundo os papéis que assumem, e a adaptabilidade é estimulada pela possibilidade de antecipar a relativa b
  • 4. 32 RUI MARTINS imprevisibilidade dos comportamentos e acções dos outros, pela afirmação do imaginário e pelo conhecimento e controlo de si próprio. Esta situação imaginária, constitui uma boa representação da estreita relação que existe na actividade humana, entre a motricidade, o psiquismo e a afectividade. Na realidade, as praxis psicomotoras situam a actividade humana como um investimento global da personalidade da pessoa em acção, em que as modificações tónicas, as posturas e os movimentos, são significantes de toda a história pessoal do sujeito, das suas representações, das suas vivências tó- nico-emocionais e do seu imaginário. A prática psicomotora é unificadora, no sentido em que veicula os laços entre o corpo e a actividade mental, o real e o imaginário, o espaço e o tempo, melhorando o potencial adaptativo do sujeito, ou seja, as possibilidades de realização nas trocas com o envolvimento. Dentro desta concepção genérica, as práticas psicomotoras podem de- senvolver-se em contextos de acção diferenciados, em função de critérios que têm como referência a própria história does) sujeito(s), a origem e caracterís- ticas das suas dificuldades, as características do meio institucional onde é feito o atendimento, e até as características da personalidade e da formação pro- fissional do orientador da intervenção. Em função destes critérios, o enfoque da actividade poderá incidir na valorização da componente relacional e psico-afectiva, envolvendo fundamen- talmente a gestão da problemática da identidade e da fusionalidade, possibi- litando a expressividade pulsional do sujeito, e o reinvestimento na pessoa do adulto como agente securizador e garante do desejo de interrelação com o mundo das coisas e dos outros. Por outro lado, a prática pode centrar-se particularmente na componente instrumental da actividade, envolvendo uma relação mais precisa com os objectos e as características espaciais e temporais do envolvimento. Neste caso, a partir da experimentação sensório-motora (mais ou menos expontânea, consoante as possibilidades de iniciativa e criatividade do sujeito), pretende- se estimular o desenvolvimento da actividade perceptiva e da actividade sim- bólica e conceptual, valorizando a intencionalidade e a consciencialização da acção, e explorando todas as formas possíveis de expressão (motora, gráfica, verbal, sonora, plástica, etc). Independentemente destas opções. o "espaço psicomotor" será sempre um espaço de prazer sensório-motor, local de jogo simbólico e de represen- tações, com uma progressiva tomada de distância por relação ao corpo, no investimento sobre o envolvimento. Numa perspectiva cognitivista, aceita-se a ideia Piagetiana de que as alterações evolutivas se baseiam quer em processos biológicos de maturação, quer da acção e da experimentação ac[Í va do sujeito, através da actividade
  • 5. QUESTÕES SOBRE A IDENrfDADE DA PS1COMOTR1CfDADE 33 sensório-motora, utilizando as retroacções próprias da experiência para cons- truir hipóteses mais adequadas sobre a realidade. Wallon na sua obra, apresenta também algumas ideias relevantes para explicar a evolução da inteligência e que são importantes para a fundamenta- ção das práticas psicomotoras. Assim, parte-se do princípio de que a maturação do sistema nervoso representa a base do desenvolvimento e da integração das experiências, através de uma hierarquização das funções nervosas, desde as mais primitivas (reflexas e automáticas) até às mais recentes de tipo voluntá- rio, as quais apresentam maior complexidade e vão dominar as anteriores. Por outro lado, a evolução da inteligência faz-se por uma diferencia- ção progressiva, que parte do pensamento dito sincrético ( no qual existe al- guma indistinção entre a imaginação e a realidade exterior) para um pensamento objectivo, graças à diferenciação entre o Eu e o outro, entre su- jeito e objecto. A evolução processa-se de uma inteligência prática para uma inteli- gência discursiva, e é pela interiorização do acto que se organiza o pensa- mento interior. A criança orienta a sua inteligência para a acção imediata, e é pela representação do acto que pode aceder ao pensamento. Nesta evolução de uma inteligência prática para uma inteligência conceptual, Wallon valori- za o papel dos seguintes processos: - A relação da criança com o seu envolvimento social - A imitação do outro - A identificação do outro no espelho, o que permite a auto estruturação do esquema corporal ao descobrir o corpo do outro - A base da comunicação centrada na motricidade, valorizando o diálogo tónico, que exprime as emoções e prepara o aparecimento da linguagem. - A função tónico-postural ligada ao funcionamento das emoções e à exteriorização da afectividade. Este autor, diz-nos ainda que as descobertas intelectuais da criança passsam por jogos de oposição qualitativos, antes de serem quantitativos (gran- de/pequeno, muito/pouco, etc. levando a criança à organização do pensamento categorial, ou seja à possibilidade de distribuir por categorias os diferentes elementos da sua experiência, descobrindo progressivamente a causalidade e as leis que a regem. Por outro lado, Wallon afirma que o tónus é a função plástica que pre- para e pré-figura o movimento, e torna-se intermediário entre o acto a execu- tar e a situação que o comanda. A função tónica constituindo a base da vida e da sua evolução subjectiva, está ligada à vida expressiva e intuitiva, emo- cional e afectiva, intencional e imaginativa.
  • 6. 34 Rur MI1RTfNS Ajuriaguerra, foi também um autor fundamental para a fundamentação da psico motricidade, assinalando-se a importância atribuida ao diálogo tóni- co, e à função estruturante da função postural ligada à emoção, actuando como mediadores nos processos de identificação e de distanciação. Partindo destes pressupostos, e segundo as necesssidªdes e os contex- tos institucionais, o psicomotricista modula a sua atitude para agir de manei- ra educativa, nos contextos ditos "normais" em que se pretende essencialmente estimular o desenvolvimento psicomotor, ou de uma maneira reeducativa ou terapêutica, quando a dinâmica do desenvolvimento e da aprendizagem es- tão comprometidos ou ainda quando é necessário ultrapassar problemas relacionais que comprometem a adaptabilidade da pessoa. Nesta perspectiva, podemos então de acordo com a concepção da Or- ganização Internacional de Psicomotricidade e Relaxação, definir a psico- motricidade como uma reeducação ou terapia de mediação corporal e expressiva, na qual o reeducador ou terapeuta estuda e compensa as condutas motoras inadequadas ou inadaptadas, em diversas situações geralmente liga- das a problemas de desenvolvimento e de maturação psicomotora, de com- portamento, de aprendizagem e de âmbito psico-afectivo, e no mesmo sentido, podemos situar de acordo com Aucouturier, Darrault & Empinet (1986) como principais finalidades da psicomotricidade: A comunicação, gerindo a ambivalência decorrente do desejo de iden- tificação e de dependência e a dinâmica de trocas (complementaridade, oposição, etc ... ); - A criação, como capacidade de acção pessoal transformadora; - O acesso a um pensamento operatório, passando de um pensamen- to essencialmente sincrético para o estabelecimento de relações lógi- cas entre os elementos da acção e do pensamento, com adequada capacidade de identificar, descriminar, analisar e sintetizar a infor- mação disponível; - A harmonização e maximização do potencial motor, cognitivo e afectivo-relacional, ou seja, o desenvolvimento global da personali- dade, a adaptabilidade social e a adequabilidade do processamento de informação do indivíduo. Na realidade, a psícomotricidade é uma prática de mediação corporal que permite à criança reencontrar o prazer sensório-motor através do movi- mento e da regulação tónica, possibilitando depois a apropriação dos proces- sos simbólicos, com forte acentuação da componente lúdica. A especificidade da psicomotricidade, consiste em dar às crianças a pos- sibilidade de reencontrar a harmonia do seu "ser" psicomotor - e o prazer de
  • 7. QUESTÕES SOBRE A IDENTIDADE DA PSICOMOTRlCIDADE 35 o fazer funcionar colocando em jogo a sua faculdade de ser e de agir pelo corpo em relação, através do movimento. Segundo Rosmarie Schnydrig (1994), a intervenção em Psicomo- tricidade pode situar-se essencialmente nos seguintes planos: 1. Regulação e harmonização tónica 'centrada sobre a maneira de es- tar no seu corpo (atitude-postura, esquema corporal, descontração neuro-muscular); 2. Movimentos funcionais e expressivos centrados sobre a maneira de agir com o seu corpo (coordenações, dissociações, praxias); 3. Vivência da relação tónico-emocional com o terapeuta, baseada na dimensão fantasmática do corpo e do agir. Os instrumentos de trabalho são o corpo em movimento (o nosso e o da(s) criança(s), como meio de relação consigo próprio, com o outro e com o envolvimento (o espaço, o tempo e os objectos). O indivíduo manifesta-se pelas suas posturas, atitudes, gestos e mímicas e a consciência do corpo é a condição e instrumento da consciência de si. A relação terapêutica funciona a partir do momento em que o terapeuta se torna um parceiro aceite e desejado pela criança, e é a partir dessa relação que se desenvolve a capacidade de jogar e de criar. Neste processo, é fundamental a harmonização da relação consigo pró- prio, o que significa reencontrar a coordenação postural baseada nas suas componentes espaciais, rítmicas e tónicas. Implica uma tomada de consciên- cia e a libertação progressiva dos obstáculos à acção dessa coordenação, em qualquer atitude ou movimento e exige uma escuta atenta e de aceitação de si mesmo e do outro naquilo que ele representa. Estamos a referirmos-nos à capacidade de empatizar relacionando o "olhar" interior com o "olhar exteri- or". Essa unidade psicossomática, esse Eu Corporal e Psíquico só se perce- be e constrói em função de um parceiro privilegiado, que num contexto securizante permite a emergência da autonomia. No que concerne aos aspectos fundamentais dos possíveis modelos de intervenção e de relação, podemos assinalar alguns elementos que nos pare- cem de primordial importância. A centração do trabalho na perspectiva terapêutica, e na valorização da componente psico-afectiva e relacional, está fortemente influenciada pela corrente psicodinâmica, e vai segundo Chappaz-Pestelli (1994), permitir como que um reviver da relação mãe-bébé: o contacto pela pele, o calor que unifi- ca o bébé e lhe dá prazer, o frio que o reenvia para o desprazer, a postura envolvente que acalma ou angustia, as mímicas, os sorrisos, a voz. A relação »
  • 8. 36 RUI MARTINS tónica-emocional decorrente da simbiose fisiológica e afectiva da relação precoce, é uma experiência do corpo, e o bébé está activamente envolvido nessa experiência pelas sincronias mimicas, posturais, cinéticas e vocais. Pelo jogo de tensão/descontração, prazer/desprazer, introduz-se um ritmo e ruptu- ras que são suportáveis se a mãe é "suficientemente boa". É o desejo provo- cado pela falta da mãe que permite à criança, por um lado construir-se como Eu corporal e psíquico distinto do outro, graças ao aparecimento da repre- sentação como percursora da função simbólica (o poder evocar a mãe na sua ausência), e por outro lado, o construir o real, com os seus objectos, o espaço e o tempo. Os laços afectivos entre a mãe e a criança vão possibilitar-lhe o inves- timento no mundo exterior e nos seus objectos, os quais funcionam como mediadores nas trocas com o outro, permitindo uma gestão adequada da dis- tância interpessoal. De acordo com Donnet (1993), o local de intervenção é um local de prazer e de desejo, para ser explorado segundo a personalidade de cada um, com as suas inibições, a sua agressividade, instabilidade, ou descoordenação, e os objectos são significantes ou representantes do mundo real, tangível, que nos permitem fazer a ponte entre a realidade subjectiva, interior, e a realid~­ de objectiva partilhada por todos. No plano da comunicação, e segundo Rey & Schwab-Reckmann (1994), a psicomotricidade utiliza todos os canais possíveis incluindo o da comuni- cação não-verbal, particularmente quando se trabalha com pessoas que não têm linguagem verbal, ou que não a utilizam de uma maneira socializada. De facto, a comunicação não-verbal constitui uma verdade para além das pala- vras, em que o corpo como estrutura espacial original e única, está sempre em situação pela expressão corporal e pela dinâmica do movimento. A co- municação não-verbal funciona numa articulação permanente entre o "sentir e o mover-se", e esta expressividade assume um valor simbólico de grande importância no desenvolvimento do processo terapêutico. Neste diálogo por mediatização corporal, ps canais de comunicação mais importantes envolvem: as orientações corporáis, as posturas e a distância interpessoal , as mímicas, a gestualidade, o diálogo tónico, a respiração e a voz, a sincronia rítmica, o contacto corporal, o olhar e o odor. Analisemos por exemplo, e de acordo com Vecchiato (1989), o valor simbólico associado às posturas e aos materi- ais utilizados. A posição de gatas favorece as atitudes de agressão ou de po- der. Gatinhar com a cabeça erguida é sentido frequentemente como forma de ameaça ou de agressão. A mesma postura, mas com a cabeça baixa implica já uma passividade e um consentimento à aproximação. As posições de sen- tado de joelhos ou com as pernas abertas, favorecem o encontro, o recolhi- mento e o sentimento de segurança, e a postura de deitado assume significados
  • 9. QUESTGES SOBRE A IDENTlDADE DA PSICOMOTRIClDADE 37 diferentes consoante se coloca em posi~ao ventral ou dorsal, com olhos aber­ tos ou fechados. Em reIa~ao aos objectos ou materiais utilizados, estes devem ser intro­ duzidos nao apenas peia sua funcionalidade e utiliza~ao pnixica, mas tam­ bern pelas produ~oes de tipo simbolico que vao encorajar. Os baloes permitem uma reIa~ao com 0 proprio corpo, com contactos agradaveis e afectivos, per­ mitindo jogos e trocas com 0 outro, envolvendo quer a agressao quer a coo­ pera~ao. As cordas facilitam a manifesta~ao de desejos agressivos, de dominio e de posse. Pode-se bater com elas, atira-Ias, segura-las ou amarrar as coisas. Podem mediatizar a disUlncia, facilitar 0 jogo, a criatividade e a constru~ao. Os arcos podem ser utilizados para rodar, saltar, bater, apanhar 0 outro, e re­ presentam urn espac;o simbolico fechado, no qual se pode entrar ou sair, e facilitar a conceptualizac;ao do dentro e fora. Os tecidos coloridos, podem servir por exo, para envolver, puxar, esconder, ou transportar. Abrem a possi­ bilidade de contruc;ao de espac;os regressivos (a casa, a toca ou 0 ninho), onde se pode gerir a dinamica de entradas e safdas, e a proximidade ou distanciamento do outro. 0 esconder-se e cobrir-se ou cobrir 0 outro, como forma de experimentar a permanencia de si e das coisas fora de si. Do mesmo modo, muitos outros objectos podem assumir-se como medi­ adores da actividade, como e 0 caso das bolas, folhas de papel, rolos, espumas, bastOes, superffcies de equilibrayiio, bancos e cadeiras, almofadas, tapetes, ins­ trumentos de produc;ao sonora, etc ..., os quais podem ser utilizados valorizando essencialmente 0 seu contetido afectivo ou racionaJ. 0 objecto pode ter urn valor substitutivo relativamente ao corpo do outro, pode constitui-se como proionga­ mento ou projec~ao do corpo no espa~o, servir de espa~o simbolico para a exterioriza~ao de desejos agressivos, ou funcionar como mediador nas trocas (agressivas, possessivas, de adapta~ao recfproca ou de procura fusional). No en­ tanto, em psicomotricidade os processos de comunica~ao, de vern desenvolver-se numa perspectiva integrada entre 0 verbal e 0 nao verbal. Em suma, os nossos instrumentos de trabalho sao constituidos pel os nossos proprios corpos, 0 espac;o de relac;ao, 0 espac;o/sala, 0 tempo e ritmos da sessao, e os varios objectos disponiveis. Estes meios serao mais eficazes, se existir uma atmosfera IUdica, na qual 0 proprio terapeuta esteja envolvido, atendendo sempre ao nfvel relacional dos sujeitos envolvidos. De facto, 0 movimento torna-se mais significativo para as crian~as se desenvolvido num contexto de jogo, 0 qual, segundo Schnydrig (1994), e de acordo com as concepc;oes Piaget, WaHon e Winnicott, pode assumir caracterfsticas diversas: - Jogos de exercicio (funcionais ou sensorio-motores) harmonizando os gestos e aumentando a sua efid.cia.
  • 10. 38 Rur MARTfNS - Jogos simbólicos ou de imaginação (de ficção), os quais favorecem por um lado, a passagem do nível sensório-motor ao nível da repre- sentação, e por outro lado, permitem ao EU compensar ou completar a realidade graças à ficção, eliminando os conflitos ou os medos e antecipando os acontecimentos. - Jogos de construção (de fabricação), que têm a sua fdnte nos jogos simbólicos e evoluem para uma adaptação mais precisa à realidade. - Jogos de regras Gogos sociais) que se caracterizam por certas obri- gações comuns permitindo o desenvolvimento da cooperação e da descentração. A intervenção deve basear-se em situações que possibilitem ultrapasssar os bloqueios existentes e permitam a libertação e flexibilização gestual, atra- vés de uma atmosfera permissiva, segura e lúdica. O terapeuta funciona como um mediatizador da relação da criança com o envolvimento, e as suas opções técnicas terão que ser indissociáveis das condicionantes afectivas que geraram as perturbações psicomotoras da criança. A intervenção centrada na componente instrumental, e com maior fun- damentação de tipo cognitivo e neuro-psicológico, privilegia segundo Fonseca (1981) a intervenção centrada nas situações-problema. Estas são apresentadas de forma a serem vividas como situações de êxito, estabelecendo uma relação entre a criança e a acção, susceptível de romper com os seus bloqueios e resistências e melhorando também a sua auto-estima e auto-confiança. A situação-problema apelando à descoberta e ao pensamento divergente deve provocar um esforço de atenção, favorecendo a diferenciação das fontes de informação disponíveis e a adaptabilidade à variabilidade do envolvimento. A colocação das situações-problema deverá envolver a linguagem oral, quer na antecipação da actividade, quer na avaliação que deverá ser efectua- da após a sua realização, no sentido de comparar o resultado desejado com o obtido. Torna-se assim possível para a criança, situar progressivamente as suas próprias possibilidades em relação às exigências do meio. A linguagem ver- bal permite passar da experiência imediata e sincrética, à tomada de cons- ciência, que implica um distanciamento da acção através da sua representação, e uma elaboração da experiência vi vida e da emoção sentida. O recurso à demonstração deverá constituir uma excepção, evitando a utilização de modelos rigorosos e de processos sistemáticos de imitação. Torna-se necessário situar entre o estímulo e a resposta uma fase de media- ção cognitiva, que favoreça os processos de análise, integração e elaboração da informação. De facto, há que promover as capacidades de reflexão, inven- ção, expressão e transposição, possibilitando à actividade funcionar como um escape criativo, libertador do imaginário da criança.
  • 11. QUEST6ES SOBRE A IDENTIDADE DA PSICOMOTRICIDADE 39 Uma vez desenvolvida a experimentação sensório-motora (envolvendo vivências que estimulem as sensações ligadas ao movimento, a integração tónico-postural, os processos de lateralização e percepção do corpo, o domí- nio das condições espacio-temporais do envolvimento, e a coordenação práxica de movimentos, é tempo de aceder à representação, de deixar um traço que reforçe o sentimento de existência e estimule a capacidade criadora e transformadora, através da transposição perceptiva e simbólica das atitudes ou acções. De acordo com Lapierre & Aucouturier (1978) este é o tempo de aceder à representação e à abstração, pelo recurso à palavra, à cor, ao dese- nho, ao grafismo e à expressão sonora, estimulando a necessidade de organi- zação das representações, em noções fundamentais que vão conduzir ao pensamento categorial e conceptual. Deste modo, a sessão de psicomotricidade conduz progressivamente a criança do prazer de agir, ao prazer de antecipar, projectando-se no futuro. O sucesso da intervenção psicomotora depende dos processos de iden- tificação entre as pessoas implicadas. O olhar, a mímica facial, a plasticidade dos movimentos do corpo, são mais fácilmente integrados do que os procedi- mentos verbais de aceitação e de compreensão. O terapeuta deve ser um suporte da comunicação, estimulando a ima- ginação criadora. Nao lhe compete avaliar a acção com critérios estéticos ou de rendimento, mas sim aceitar todas as manifestações da criança como vá- lidas. Com um bom clima emocional, o inêxito de uma situação é relativizado e bem compreendido. O interesse situa-se ao nível da experiência e da vivência e não do êxito ou inêxito. Não se deve valorizar a criança só pelos êxitos, mas também pela sua capacidade relacional e afectiva. De acordo com Bucher (1985), as situações devem ir evoluindo em com- plexidade, variando progressivamente as condições espacio-temporais e as circunstâncias de execução, de forma a favorecer a adaptabilidade e a auto- nomia do sujeito. As actividades proporcionadas pelo terapeuta, não devem desencadear o reviver de situações ou emoções que tenham sido responsáveis pelas difi- culdades pre~entes no plano da acção ou da relação, e o terapeuta deve de- marcar-se da representação que a criança faz dos adultos em relação aos quais mantém relações conflituosas ou de impasse. O terapeuta está activamente envolvido no processo terapêutico, toman- do consciência e interrogando-se sobre as suas atitudes, procurando alargar o seu campo de compreensão, e alterando as suas atitudes em relação a si pró- prio e aos outros. A organização dos contextos de acção em psicomotricidade é também como temos vindo a constatar, condicionada pelo tipo e grau da indicação, ou seja, pela problemática existente. Este critério é importante para decidir
  • 12. • 40 RUI MARTINS se o apoio é individual, ou em pequeno ou grande grupo, se a atitude é mais ou menos directiva, se o acentuação é mais sobre a componente motora, cognitiva ou relacional, se se valoriza o jogo funcional ou simbólico, a receptividade ou a expressão. Mas globalmente pode-se afirmar que a prática psicomotora é dirigida às crianças ou adultos que se sentem mal no seu cor- po, e que têm dificuldade em comunicar e em agir sobre o mundo exterior, e que encontram no agir, na experimentação e no investimento corporal, um meio para afirmar a sua presença no mundo. Bibliografia: Aucouturier, B. ; Darrault, L & Empinet, 1.L. (1986). A prática psicomotora, reeducação e terapia, Porto Alegre. Artes Médicas Bucher, H. (1985). Troubies Psychomoteur.r CMZ l' enfant, Pratique de ia rééducation psychomotrice, Paris, Masson Calza, A. & Contant, M. (1994). Psychomotricité, Paris, Masson Chappaz-Pestelli, M. (1994). Des Thérapies Psychomotrices à la Pratique Psychomotrice, in La Psychomotricité, reflects des pratiques actuelles, Association Suisse des Thérapeutes de la Psychomotricité, Geneve, Georg Éditeurs De Lievre. B. & Stnes, L. (1992). LtJ Psychomotridté au service de i'enfant, Paris. Belin Donnet, S. (1993). L' éducation psychomorrice de i' enfant, Paris, PrivaI Fauché, S. (1993). Du corps au psychisme, histoire et épistémoiogie de ia psychomotricité, Paris, Presses Universitaires de France Fonseca, V. (1985). Contributo para /I estudo da génese dn Psico motricidade, Editorial NotCcias, Lis- boa, 3' edição Lapierre & Aucouturier (1978). Les contrastes et ia découverte des notion.rfondnmentaies, Paris, Doin Schnydrig, R. (1994). Éducation, Réeducation, Thérapie Psychomotrice, in La Psychomotridté, reflects des pratiques actuelles, Associatíon Suisse des Thérapeutes de la Psychomotricité, Geneve, Georg Éditeurs Richard, I. & Rubio, L. (1995). La thérapie psychomofrice, Paris, Masson Rey, M.C. & Schwab-Reckmann (1994). Psychomotricité et Communication, in La Psychomotricité. reflects des pratiques actuelles, Association Suisse des Thérapeutes de la Psychomotricité, Geneve, Georg Éditeurs Vecchiato, M. (1989). Psicomotricidade Relacionai e Terapia, Porto Alegre, Artes Médicas.